História da Música: criações surpreendentes

Publicado por JAM Music em

por Rodrigo Lihmor

           

Além do pentagrama

           Imagine que, depois de ter entendido e seguido todas as regras teóricas sobre composição, um compositor deseja ir além. Bem, é esse mesmo ir além que, na História da Humanidade, moveu grandes mentes para novas descobertas. O “e se…” torna possível uma porta antes nunca aberta – e ao abri-la, algo revolucionário acontece.

            Foi assim que alguns compositores também mudaram a História da Música! Debussy, por exemplo, estava entediadíssimo sobre a maneira correta de se compor. Frustrado por certos mestres não aceitarem sua forma de escrever quando estudou na Itália, decidiu seguir seu coração depois de ouvir Liszt tocando. E suas músicas, através de uma nova concepção, o colocariam em um novo estilo dentro do Período Romântico – o Impressionismo – e suas obras iriam influenciar muitos compositores, como Bartók e Villa-Lobos.

Fragment for piano, 1905 – Claude Debussy, manuscrito original

  

            Mas e quando o compositor apenas compõe de acordo com a música de sua época? O que o torna diferente de tantos outros do mesmo período? Em nossas aulas, vamos analisar essas questões ao apreciar e conhecer um pouco da genialidade de um dos grandes nomes da História, Mozart, cuja música o torna compositor-ícone do período Clássico.

            É com Mozart e outros grandes nomes que poderemos entender o que é ir além do pentagrama. Para dar um gostinho do que veremos, vamos falar de Bach.

            Você sabia que nem todos os países usam a nomenclatura dó, ré, mi, fá, sol, lá e si para representar as notas? Essa forma, desenvolvida pelo italiano Guido d’Arezzo – e apesar de muito apreciada – acabou não se aderindo em algumas escolas.

            Na Alemanha, continuou-se usando o sistema de letras do alfabeto. É mais ou menos como utilizamos as cifras aqui no Brasil: a letra A representa o lá; a letra C, o dó; etc. A maior diferença é que a letra B representa o si bemol e a letra H, o si natural.

            Sendo assim, Bach assina algumas de suas músicas com as notas B A C H – si bemol, lá, dó e si.

Art of Fugue – BWV 1080:19

 

             Gil Shaham, renomado violinista estadunidense, analisa algumas obras de Bach onde são encontradas essas notas, também chamadas de criptogramas. Ele lembra ter ouvido sobre A arte da Fuga que o “tema Bach” é

          “naturalmente cromático, e pode ser interpretado como um sinal da humildade do compositor. Enquanto os intervalos em uma escala diatônica podem ser ‘perfeitos’, representando o divino, os da escala cromática são imperfeitos, retratando o falho e o humano.

            Aliás, escala diatônica é aquela formada por tons e semitons, como a escala de Dó Maior. Bach levava muito a sério a simbologia e numerologia bíblica em suas músicas, o que pode ser encontrado através de análises [é como uma caça ao tesouro, já que seu acervo de composições é enorme].

            Ir além do pentagrama não necessariamente está relacionado ao efeito sonoro e suas concepções teóricas do certo e errado. É, antes, dar sentido ao incomum. É começar com o “e se…”

            Por exemplo, e se… essa imagem fosse uma música?

            ― É impossível formarem notas, pois falta a clave ― diz o teórico chato com seu monóculo.

            ― Clave? Quem precisa de uma mera clave de sol quando temos um Sol enorme iluminando meu pentagrama de fios? ― eu respondo, sonhador, ouvindo a música no céu.

            ― Haja energia pra te aguentar ― diz o teórico, querendo fazer um trocadilho também.

            Como veremos nas obras de Mozart, Beethoven e muitos outros compositores, compor pode ser uma grande aventura, e ir além é apenas algo esperado quando o pentagrama se torna muito pequeno para o coração expressar tudo o que precisa.

 

REFERÊNCIAS:

  • The Guardian. Magic numbers: composers and their clandestine codes, disponível aqui.
  • DUNNETT, Roderic. The World’s Greatest Composers – Claude Debussy. 1995, Watford: Exley. 
  • Musica Clássica Folha. Compositor exibe rebeldia estudantil, disponível aqui.
  • O Popular. O impressionismo na música.
  • Clássico dos clássicos. Debussy é impressionista?, disponível aqui.
  • Bach Cantatas Website. Arrangements & Transcriptions of Bach’s Work Using the Name Bach [The BACH motif], disponível aqui.
  • Violinist.com. The BACH Motif and Solitude: Video with Vijay Gupta, Gil Shaham and Laurie Niles, disponível aqui.

 

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