Compreendendo a harmonia de uma forma simples

Publicado por JAM Music em

por Ivan Osorio

   

      Primeiramente, é importante entender o que é uma Tríade de forma conceitual. Considerando que um “acorde” é um agrupamento de três ou mais notas distintas, uma tríade é um tipo de formação particular de acordes, onde as notas existem em relações específicas umas às outras.

       

      Toda tríade é um acorde, mas nem todo acorde é uma tríade.

       

      Além disso, é importante também perceber que tríades são uma ferramenta, um meio, e não um final. Ter o conhecimento sobre tríades auxilia a elevar nossa proficiência em nossos instrumentos, podendo utilizá-lo como ferramenta de análise e improvisação, além de desenvolver uma relação mais próxima com a música que ouvimos e executamos.

      Um jeito que sempre me agradou de olhar para tríades é como a máxima redução de uma escala.

      Ao invés de referenciar diretamente a escala Maior ou Menor, vamos pensar na escala Cromática e todas as suas 12 notas. Por exemplo, considere a escala cromática de Mi:

       

      E          F          F#         G          G#        A          Bb        B          C          C#        D          D#

       

      Escalas cromáticas são muito interessantes quando você as compreende, porque elas explicitam todos os valores harmônicos existentes com relação a um centro tonal, mas é justamente essa flexibilidade que as torna ferramentas de difícil uso. Essa sequência de notas pode ser demonstrada abstratamente como:

       

      T          m2       M2        m3       M3        P4        d5        P5        m6       M6        m7        M7

       

      Onde T é a tônica, a âncora da escala, e cada ponto subsequente é um intervalo específico em relação a esta. Após a primeira, todos os intervalos são sinalizados por símbolos compostos de duas partes: uma letra e um número. A letra define a qualidade do intervalo (se ele é maior, menor, etc) e o número rege o seu grau (de II a VII, letras romanas são frequentemente usadas para análise de grau). Por exemplo, “M2” se refere a segunda maior, “P4” a quarta justa (ou perfeita), “d5” a quinta diminuta, “m7” a sétima menor, e assim por diante.

      É importante lembrar que música é uma arte de controle de dissonância. Nesse contexto, “controle” é a palavra-chave. É necessário tratar dissonâncias com cuidado. Prepará-las e resolvê-las de formas interessantes resultam em experiências musicais ricas e prazerosas. Não se trata de evitar dissonância, mas de usá-la de forma coesa.

      Partindo deste princípio, a forma mais direta de se “peneirar” a escala cromática para reduzir o número de possíveis dissonâncias é limitar-se a usar apenas uma qualidade de cada grau. Podemos então, por exemplo, formar uma escala com os intervalos T, M2, M3, P4, P5, M6, M7. Você provavelmente conhece essa escala muito bem como a escala Maior.

      Mas mesmo dentro dessa muito conhecida e relativamente simples escala, podemos ver um grau bem elevado de dissonância. Especialmente entre a tônica e sua sétima maior, e entre os graus IV e VII (cuja distância é expressa por uma quinta diminuta). Então, podemos filtrar um pouco mais. Cortar a tônica nunca é possível; cortar a sétima maior não é uma boa ideia, ela é uma dissonância melodicamente muito importante. Assim nos livramos dos graus IV e VII. Isso gera uma escala contendo os intervalos T, M2, M3, P5, M7. Que você talvez conheça como a escala Pentatônica Maior.

      Continuando este processo de refinamento: Ao analisar mais atentamente a estrutura da pentatônica maior, nota-se que há uma desigualdade na distância entre seus elementos: Da tônica para a terça maior, temos obviamente uma terça maior, mas também temos intervalos de terças indo de M3 para P5, e de P5 para M7. O intervalo que sobra é o da segunda maior (M2). Então vamos descartar esta também.

      E com isso ficamos com apenas T, M3, P5, M7, que é a fórmula da tétrade maior com sétima. Mas estamos falando de tríades, então podemos também descartar o intervalo M7. E assim acabamos com a maior redução possível de uma escala maior: Sua tríade tonal: T, M3, P5.

       

      Assim chegamos à hora de responder a grande pergunta: O que são tríades?

       

      Tríades são acordes, mas de uma espécie muito distinta. Para se constituir uma tríade, o acorde deve possuir apenas três classes; estas devem estar organizadas de forma a haver, de baixo para cima, intervalos de alguma qualidade de terça. Esse processo é chamado de “empilhamento de terças”.

      Existem quatro, e apenas quatro, tríades “clássicas” e suas construções são de fácil visualização quando pensamos de forma sistemática. Vamos pensar em um exemplo usando Fá como a tônica:

      Tendo a tônica como âncora, realizamos um “empilhamento de terças” de baixo para cima. A próxima etapa diz respeito a qual “qualidade” de terça deve ser usada. Como vimos na escala cromática, existem duas qualidades do terceiro grau: Maior e Menor. Ambas as qualidades são válidas, e é exatamente deste processo que surgem as quatro tríades. São todas as permutações possíveis desses 2 graus.

      Podemos empilhar M3 + M3, M3 + m3, m3 + M3 e m3 + m3. Lembrando que a ordem importa. Apesar da representação matemática usada, estamos lidando com som de forma vertical. Uma terça maior em cima de uma terça menor não soa como uma terça menor em cima de uma maior. O processo não é puramente aditivo.

       

      Vamos separar essas permutações:

       

      M3 + m3 nos dá T, M3 e P5 (entre M3 e P5 há uma terça menor).

      Essa é a tríade maior:

       

      m3 + M3 nos dá T, m3 e P5 (entre m3 e P5 há uma terça maior).

      Essa é a tríade menor:

       

      m3 + m3 nos dá T, m3 e d5 (entre m3 e d5 há uma terça menor).

      Essa é a tríade diminuta:

      Neste exemplo, podemos ver a existência de uma nota que você talvez já tenha escutado que “não existe”, o Dó bemol. Este exemplo ajuda a visualizar porque um dó bemol precisa existir: Dó é o quinto grau de Fá, então, para se fazer um quinto grau diminuto, precisamos abaixar o mesmo por um semitom. Escrever uma tríade diminuta de Fá como Fá, Lá bemol e Si é confuso para a percepção da mesma como tríade pois não há uma terça menor entre Lá bemol e Si, mas uma segunda aumentada, um intervalo raro e de difícil visualização.

      Por uma lógica similar, também não temos uma “tríade” constituindo os intervalos T, M3 e d5, porque apesar dos intervalos escolhidos estarem dentro do sistema, a relação entre eles é inadequada: entre M3 e d5 existe apenas uma segunda maior.

       

      M3 + M3 nos dá T, M3 e +5 (entre m3 e +5 há uma terça maior).

      Essa é a tríade aumentada:

      A tríade aumentada é a mais exótica das quatro. O símbolo “+5” (ou “A5”) é lido como “quinta aumentada”, dando origem ao nome. Enquanto a tríade diminuta ocorre naturalmente na formação do campo harmônico das escalas maiores e menores (nos graus VII e II, respectivamente) a tríade aumentada existe apenas em escalas modais e alteradas.

       

      Mais uma vez, vamos observar a formação das quatro tríades clássicas, agora com a tônica em Lá:

      Acordes que desviam desse mapeamento são perfeitamente válidos como acordes de forma geral, mas não são tríades.

       

      Tríades maiores e menores constituem a maior parte da música tonal ocidental, enquanto a tríade diminuta é usada eventualmente como ponto de maior tensão, especialmente em peças clássicas, no jazz e no metal. No entanto, a tríade aumentada é bastante rara.

      Estar familiarizado com a estrutura das diferentes tríades é de grande valia ao analisar peças musicais, pois proporciona uma leitura mais rápida de suas funções harmônicas, além de ser uma ferramenta fundamental do vocabulário melódico de todo musicista.

                 

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