O DNA das músicas: como tirar músicas de ouvido?

Publicado por JAM Music em

por Rodrigo Lihmor

     

                Bem-vindo, bem-vinda, ao meu Laboratório Musical! Imagino que já deve ter ouvido falar desse lugar, formado por letras e palavras, onde tudo é possível.

                Nosso passeio hoje é por aqui, nessa primeira sala. Pode entrar. Nessa mesa temos um poderoso microscópio musical. Com ele, podemos ampliar músicas até conseguirmos enxergar o que se esconde em seu mais íntimo sonoro.

                Pegue aquelas duas músicas ali, por favor… isso, obrigado! Vamos usá-las em nosso experimento. A primeira é Jenny Wren, de Paul McCartney:

                     

               E a segunda, a famosíssima A Thousand Years, de Christina Perri:

                 [Caso esteja usando um computador, tente abri-las em abas separadas e compare o primeiro acorde das duas. Notou algo parecido?]

                As duas canções, com todas suas belezas e complexidades, possuem um material genético em comum. Estão unidas por um laço invisível que amarra várias músicas juntas: a tonalidade.

                Bom, que tal começar colocando um pouco de zoom no nosso microscópio musical?

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                Aqui, vemos a primeira camada de A Thousand Years e a comparamos com Jenny Wren. O tecido que costura ambas as músicas possuem padrões muito distintos, o que nos faz pensar que, na verdade, não têm nada em comum.

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                 Começamos a perceber que há muitas notas iguais entre elas. Por exemplo, o primeiro acorde de ambas as músicas é Si bemol maior. Além disso, vemos também que possuem o si bemol e o mi bemol como acidentes fixos.

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                  Agora os compassos se alargam em quilômetros. Conseguimos ver a geometria musical de cada uma, ainda bem diferentes, de padrões rítmicos e simétricos. São lindas. Também aqui começamos a enxergar as cores dos acordes e como eles se misturam uns com os outros. Em alguns momentos, uma mesma nota muda de sensação por conta do acorde em que está situada. Aqui, veja nesse si bemol [em vermelho] de Jenny Wren e depois de A Thousand Years:

    Vamos ver o poder desse microscópio e colocá-lo no zoom máximo. Precisamos descobrir o que encontraremos no mais íntimo dessas músicas:

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                   Nessa viagem, o microscópio parece estar entrando em um túnel cósmico, repleto de sons, luzes e sombras. Vemos as intenções dos compositores, vemos as letras se fundindo com as melodias. Essas estruturas nos lembram grandes galáxias coloridas, cada nota uma estrela.

                   Até que, ao chegar no máximo, vemos algo muito mais simples do que poderíamos imaginar. As duas músicas são idênticas em seus íntimos, possuem as mesmas sete notas enfileiradas: a Escala de Si bemol Maior:

                  Assim, podemos assumir que ambas as músicas possuem o mesmo tom porque foram criadas a partir da mesma escala: Si bemol Maior!

       

                  O compositor escolhe a escala que vai usar em sua música. Portanto, o primeiro passo para tirar uma música de ouvido seria [ou pelo menos seria de muita ajuda] conhecer as escalas!

                  Em nossa aula, iremos aprender através do método de exclusão como podemos encontrar o tom de uma música. Além de precisar um instrumento para nosso exercício prático, também precisaremos de uma ferramenta intelectual, a percepção melódica, para deduzirmos se o que estamos comparando está correto em relação ao que estamos ouvindo. Por exemplo, tente tocar um ré bemol junto com a introdução de A Thousand Years e me diga se combina ou não.

                  Se sua resposta for não combina, então você acaba de provar que tem o mínimo de percepção melódica. Vai ser dessa forma que, tirando as notas que não combinam, vamos peneirando e filtrando nossas escalinhas até encontrar aquela que foi usada pelo compositor ou arranjador.

                  E se alguém responder que combina? Bem, acho difícil alguém dizer que o ré bemol harmoniza com o começo da música. O choque entre ele e o ré natural que ouvimos na introdução é uma dissonância – mas nesse caso bastante agressiva [algumas dissonâncias são aceitas e até mesmo buscadas, mas conforme avançarmos em nossos estudos teóricos, nossa percepção também vai apurando a ponto de reconhecermos vários tipos de intervalos melódicos].

                  E então, não precisaremos de um microscópio como esse do nosso experimento para descobrir escalas. Aliás, se a música já faz parte de seu sangue e bate conforme seu coração, ela já está presente em seu DNA.

       

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      Categoria: Blog

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