Ouvido Absoluto: como funciona, como ter?
por Miriã Degi
Já ouviu um som ou trecho musical e pensou como seria interessante saber exatamente que nota foi tocada?
Para quem tem ouvido absoluto, essa habilidade acontece normalmente, com todos os sons ouvidos.
Ouvido absoluto é um fenômeno auditivo que permite a identificação e nomeio de frequências sonoras sem nenhuma outra nota como referência. Segundo Levitin, a pessoa com ouvido absoluto tem a habilidade de identificar uma nota isolada de qualquer outro tom, utilizando nomes padrões das notas ou frequências sonoras, além da capacidade de reproduzir uma nota específica sem qualquer referência tonal externa.
Ou seja, o ouvido absoluto pode ser classificado em três tipos, de acordo com o nível de capacidade de classificação?
– Tipo Passivo: a pessoa é capaz de identificar e nomear notas e tonalidades, porém não consegue emiti-las, cantando a mesma nota sem nenhuma referência;
– Tipo Ativo: Além de identificar notas e tonalidades, consegue cantar notas na mesma altura ouvida;
– Tipo Muito Fino: A pessoa com esse tipo de ouvido absoluto tem a capacidade de identificar notas e tonalidades, reproduzir as notas com precisão e julgar afinações, mesmo que sejam oscilações muito próximas do Lá=440Hz.
Abaixo, há um relato de uma carta anônima escrita em relação a W.A.Mozart, quando tinha 7 anos de idade:
“Além disso, eu vi e ouvi, quando fizeram com que ele ouvisse em outra sala, eles lhe dariam notas, algumas agudas, outras graves, não apenas no piano, mas em todos os outros instrumentos imagináveis, e ele falou o nome das notas em um instante. De fato, ao ouvir um sino, ou um relógio ou até mesmo a batida de um relógio de bolso, ele foi capaz de, no mesmo momento, nomear as notas tocadas.”
Posso ter ouvido absoluto?
A discussão sobre como ter essa habilidade e de onde ela surge é longa, entre músicos, psicólogos e outros especialistas. As hipóteses são inúmeras, e giram em torno de dois eixos: fatores biológicos (genética, DNA) e fatores ambientais (sociais, histórico, culturais, etc.).
Alguns acreditam que a partir de traços genéticos, algumas pessoas nascem com esse fenômeno auditivo, e por mais que ignorem ao longo da vida, a facilidade em identificar sons continuaria presente. Outros pensam que o ouvido absoluto pode ser estimulado e até mesmo treinado a partir de exercícios auditivos e vivência musical. Há ainda, aqueles que interpretam a habilidade, pela raridade com que aparece, como um dom divino ou uma característica de genialidade musical. O que tem sido aceito pela maioria dos pesquisadores é que, se uma criança com pré-disposição genética de até 8 anos de idade for estimulada e treinada, pode adquirir o ouvido absoluto, mas depois desse período, seria praticamente impossível a aquisição dessa habilidade.
Se você, ao ler esse ponto, se decepcionou, pensando: “Puxa, nunca vou conseguir identificar notas de ouvido..”, Não se desanime! Você não precisa ter ouvido absoluto para ter essa capacidade, você pode ter ouvido relativo!
O que é ouvido relativo?
Ouvido relativo é a habilidade de identificar sons e sequências de notas musicais sem precisar de algum direcionamento ou notação musical. Basicamente, algo muito parecido com o ouvido absoluto, mas geralmente utilizando alguma nota ou tom como referência.
A principal diferença entre ouvido absoluto e ouvido relativo, é que o ouvido relativo pode ser desenvolvido a partir de treinos de percepção musical. Com um ouvido bem treinado, o músico é capaz de identificar uma sequência longa de notas, comparando-as com as anteriores, e com mais facilidade quando se tem conhecimentos de teoria musical.
No meio musical, quem tem ouvido absoluto pode ter facilidade em exercícios de percepção (classificação de notas e acordes), identificar músicas de ouvido e afinação, porém, o estudo do instrumento continua sendo uma técnica motora que precisa ser treinada, além de toda a teoria musical. Assim, Levitin afirma que, apesar de ser uma habilidade muito interessante de ser observada, e útil se for aplicada corretamente, tudo o que entendemos e escutamos muna música, não depende do ouvido absoluto!
Fonte
Junior, Paulo Jeovani dos Santos. Ouvido absoluto e ouvido relativo: sua natureza e relevância para a educação musical. In ABEM: XVI Encontro Regional Sul da ABEM Educação musical: formação humana, ética e produção de conhecimento, 2014.
Deutsh, Diana. Absolute Pitch (Cap 5). In The Psychology of Music. 3rd ed. São Diego: Academic Press, 2013.
LEVITIN, D. Em busca da mente musical. In: ILARI, B. S. (org.). Em busca da mente musical: ensaios sobre os processos cognitivos em música – da percepção à produção. Curitiba: Editora da UFPR, 2006.
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