Como saber o meu tipo de voz?

Publicado por JAM Music em 28 de março de 2023

por Clara Jansson

Você já ouviu falar em termos como soprano, tenor, contralto…?
Já ouviu falar sobre “tipos de voz”, “classificação vocal”…?

Talvez você mesmo (a) já tenha se perguntado sobre qual seria o seu tipo de voz/sua classificação.

Vamos conversar sobre essas nomenclaturas, de onde elas surgiram e para quais momentos e demandas do canto elas servem. Vamos também entender qual é o seu tipo de voz, mas, principalmente, em qual região você possui mais conforto e brilho.

Em primeiro lugar, podemos dizer que isso tudo se popularizou mesmo lá no século XIX com o surgimento das óperas. Em resumo, os cantores líricos tinham suas vozes classificadas, dentre outras características, de acordo com sua tessitura. Isso quer dizer que os cantores eram classificados, principalmente, de acordo com a região na qual eles conseguiam emitir notas com maior qualidade e conforto.

Até os dias de hoje, a classificação vocal para o cantor lírico é muito importante, até mesmo essencial, pois determina as obras musicais que ele irá cantar ao longo de sua carreira. Por exemplo, se um cantor lírico for classificado como um barítono, ele sempre receberá peças musicais escritas exclusivamente para barítonos, e, a princípio, não cantará uma peça escrita para tenor ou baixo.

Baixo, barítono e tenor são os tipos de vozes geralmente associadas aos homens. Para as mulheres, comumente vemos os termos contralto, mezzo-soprano (ou meio soprano) e soprano.
Os baixos e as contraltos seriam as vozes mais graves, seguidas pelas vozes médio-graves ou médio-agudas, os barítonos e as mezzo-sopranos. Por último, abrangendo as vozes mais agudas, os tenores e sopranos (no canto lírico ainda existem diversas outras classificações como: soprano dramático, soprano ligeiro, baixo cantante etc)

Uma música bem legal para percebermos as diferenças entre as vozes, nesse caso masculinas, é esta cantada pelo Quarteto Athus:

Assim como nos quartetos, trios e quintetos, se você canta ou já cantou em coral vai notar também que a classificação é muito importante. Geralmente os coros são divididos em vozes, você já é classificado logo no primeiro ensaio para que sempre se sente com o seu naipe (grupo) e cante a parte escrita para a sua voz.

Sabemos que o canto popular herdou diversos elementos do canto lírico e que lidamos com esses elementos até hoje. No entanto, muitas coisas foram também ressignificadas e criadas – é só pensarmos nos diversos estilos e gêneros musicais que temos hoje na música popular nacional e internacional. Nesse sentido, ainda que seja muito usada nos coros e quartetos, por exemplo, no canto popular essa classificação não é essencial como no canto lírico, por três motivos principais:

Na música e no canto popular, podemos mudar a tonalidade da música o tempo todo. Por exemplo, se tenho comportamento vocal de uma soprano – me sinto mais confortável nas regiões agudas – posso cantar tranquilamente uma música da Maria Bethânia, que tem a voz muito mais grave; só preciso ajustar o tom da música para a minha voz. Se a Bethânia canta a música em Dó Maior, eu posso subir para Fá Maior, por exemplo, se essa tonalidade me deixar mais confortável e na minha região de brilho. Diferente do canto lírico, pois nesse caso eu teria que ser uma contralto para interpretar uma obra musical escrita para contralto (a mudança de tonalidade não é muito usual para o canto erudito, salvo alguns casos específicos)
Seguindo esse raciocínio, no canto popular o mais importante é conhecer nossa própria tessitura para saber se a região de brilho da nossa voz se encontra mais na região grave, média ou aguda. De repente você é um cantor/cantora que se identifica com mais de um tipo de voz, e talvez fique muito indeciso quando analisa sua própria voz. Quem sabe você possui graves muito presentes e densos, mas ao mesmo tempo seus agudos têm bastante brilho. Então é mais fácil seguir uma lógica de conforto e brilho do que definir um único tipo de voz.
Um cantor pode aumentar sua tessitura e sua extensão vocal, pois todos os músculos envolvidos no canto vão adquirindo maior controle e condicionamento quando o treino vocal é adequado. A voz é treinável. Alguém que sempre achou que seria impossível cantar agudos, depois de algum tempo de treino – e com o treino adequado – pode, eventualmente, cantar notas bem mais agudas.

Então, como saber qual é o seu tipo de voz?

Temos algumas maneiras, mas a dica de hoje é que você procure os cantores ou cantores que têm a voz parecida com a sua. Depois, escolha músicas cantadas por eles/elas e veja como a sua voz soa: está confortável? Você sente sua voz brilhar mais nessa região? Por último, pesquise qual o tipo de voz desses cantores/cantoras – provavelmente você se encaixe na mesma região e essa seja sua classificação vocal.